Textando: J a c k
Na verdade, pra mim, o Natal começou a ser meio que um Dia do Julgamento: quando os clichês mortos se levantam de seus armários mofados e lotam nossas caixas de correio, caixas de e-mail e pisca-piscam na nossa sala de estar ou no trabalho ou nas ruas. E eu não estou falando apenas dos cartões com os sentimentais e sinceros "Feliz Natal e Próspero Ano Novo" ou o "Boas Festas" coringa que serve para os dois eventos, estou também falando dos chatos de Natal que, possuidos por uma pomba-gira noeliana, psicografam cartas ou e-mails intragáveis sobre o verdadeiro espírito natalino contra o comercialismo das nossas festividades atuais. Só porque tem menos de 100 anos, essa crítica ao Natal como festa comercial não deixa de ser clichê e já tá enchendo o saco.
Decidi relatar o evento que me deixou amargo com o Natal desse ano especificamente. Acontece que muitos dos malas eletrônicos nos pedem que observemos os pequenos atos e ajamos (e poderia ser "hajamos") com mais cortesia nessa época do ano. Bom, eu observei uma pequena notícia que passou um pouco despercebida da massa; uma real aparição do bom velhinho em sua versão pós-moderna e com tudo a ver com nossa sociedade. Eis que chega o bonachão e gorducho senhor com uma mala em suas costas gritando "ho-ho-ho" para quem quisesse ouvir e aconchega-se a um grupo de mendigos dizendo que lhes trouxe muitos presentes. Eles bebem juntos e, imbuído de um espírito muito especial, o bom velhinho promete aos mendigos um pedacinho do céu e os deixa com mensagens de boa vontade. Jubilosos eles agradecem e, pouco tempo depois, padece o senhor Natalino Caetano, envenenado com arsênico. Deixo a notícia aqui para quem quiser ler.
Isso aconteceu em 10 de dezembro desse ano, e envenenou meu espírito natalino com a imagem de um Papai Noel espírito de porco que sai por aí prometendo o céu e enganando o povo.
Nossa sociedade faz é isso, mas fale-me mais sobre a festa comercial que é o Natal...
Estado de São Paulo: Cidades, 10 de Dezembro de 2003.
Morador de rua bebe "Azulzinho do Céu" e morre envenenado
Quatro moradores de rua foram envenenados ontem, após beberem de uma garrafa com arsênico dada por um homem - ainda não identificado. Eles estavam na Rodoviária de Mairiporã. Natalino Caetano de Oliveira, de 50 anos, foi o que mais ingeriu o líquido anunciado pelo homem como "azulzinho do céu" e morreu no pronto-socorro. Antonio Vaz Lima, de 39, Sebastião Antonio da Silva, de 45, e Norival José Martins, de 62, passam bem.
Segundo o investigador Flávio Fagundes, os quatro conversavam, quando um homem ofereceu várias tipos de bebidas alcoólicas. [...]
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1ª Imagem - Fonte: iStock Foto
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